09.02.2023
Portfólio Laranja: Rita Caetano e Vanessa Garcia, a viagem
Vai além, segue vida, segue tempo
Como folha na corrente
Vai, meu bem, segue luta, fogo ardente
Choro, riso, segue em frente
Voltarás um dia também
Como todos nós que um dia vamos
Procurando luzes que nos faltam
Encontrando os passos onde andamos
Tiago Bettencourt
Tive um prazer de ver crescer esta equipa laranja desde 2018.
O prazer de ver, testemunhar, o profissionalismo, entrega e dedicação de pessoas extraordinárias que por aqui passam, que deixam a sua brisa, a sua impressão digital, que passam de viagem e passagem, que ficam porque faz sentido esta pertença na comunidade que aqui está, que vão, com a bagagem transformada, com desapego, sempre mais ricas o quanto deram ou se ligaram às pessoas, às aprendizagens à evolução do seu potencial.
A equipa laranja sucedeu outras equipas e pessoas no Cowork mas veio transformar e, sobretudo, reforçar e empoderar esta comunidade Cowork, que vai tendo esta identidade única desde que abriu, de forma despretensiosa e também sonhadora, em 2013. Convidei a Rita e Vanessa para falar desta viagem, para fazermos despedidas boas e, sobretudo, encaramos os novos caminhos carregados de boas energias de crescimento.
Com a informalidade da amizade, depois de um abraço no corredor, pusemo-nos a caminho nesta conversa boa. Brincando com as analogias e metáforas, imaginámos o caminho da Rita e Vanessa como uma viagem, com carros, com bagagens únicas, com momentos com estradas com buracos, nacionais e secundárias e aceleração no autoestrada. Uma viagem rica.
Como é que chegaram aqui ao Cowork ? Qual o carro que traziam e o que vinha na bagagem? 🚘🧳
🍊 O lado da Rita
O meu carro tinha rodas e volante, era simples, de 5 lugares e depressa descobri que se transformou num camião. A primeira vez que aqui cheguei foi uma passagem breve, de 3 semanas, em 2013. Foi tudo muito espontâneo. Tinha-me despedido quando o espaço abriu. Senti que, mais que um lugar para trabalhar, havia o espírito genuíno de fazer acontecer algo de novo em Torres Vedras. Pensei: isto é giro, eu gosto destas pessoas, têm ideias engraçadas, deixa-me ver o que é isto e o que posso eu fazer! Em suma, ajudar amigos. Quando retorno, em 2018, como diz o Sérgio “deixei de fugir”. Foi engraçado pensar que estive na génese do Cowork, rever-me nas primeiras formações e perceber que no fundo eu tinha de vir cá parar outra vez! Isto fazia sentido no meu caminho, o conceito, o projeto para a cidade, esta forma de trabalhar colaborativa.
Em 2018, quando volto já de forma intencional, trazia na minha bagagem a Comunicação Institucional, com a experiência em organizações sobretudo do sector social, onde quem trabalha em Comunicação faz muitas outras coisas também. Quando iniciei no Cowork Torres Vedras, aliciou-me o o sector empresarial que, para quem vem do sector social, é muitas vezes visto com ‘bicho papão’. Trazia imensa curiosidade para perceber como é que as pessoas se organizam, quem trabalha por conta própria, e os desafios que tem, conhecer outro tipo de dores que até aqui eu não conhecia tão bem. Aliciou-me a folha branco, numa etapa de um novo início para o Cowork, onde eu poderia contribuir com um novo capítulo, com espaço para ideias novas, reformular, testar e inovar. Queria também estar em Torres, perto de casa, e ter mais tempo.
Na viagem de quatro anos e meio os pontos de paragem (conquistas, desafios, experiências marcantes) que queres destacar no Cowork Torres Vedras?
A primeira paragem foi após os primeiros 6 meses, numa descoberta deste papel de Community Manager, com toda a elegância que este nome tem. Foram meses de desafio em encontrar-me e conhecer este papel, procurar e encontrar-me com a equipa. Perceber onde eu encaixo, o que tenho de aprender de novo, ter contato com áreas que não eram tão diretas para mim, como a gestão, parte administrativa, contabilidade. Housekeeping também – que no inicio não adorei e pensei: mas então eu quero comunicar e vou ter que saber se há rolos de papel higiénico? Mas fui cultivando a visão global, com o objetivo maior de que tudo funcionasse bem e ao conseguir fazê-lo fui criando espaço para as coisas que acho realmente divertidas de fazer. Quis também honrar a herança que o espaço e a equipa já tinham. Fazer escolhas, filtrar, criar novos processos e procedimentos, reconstruir uma identidade. Aprendi imenso sobre assertividade, gestão de conflitos, sobre gestão e tomadas de decisão. Cresci muito. Estas primeiras estradas tiveram alguns buracos, depois vieram estradas secundárias, nacionais, auto-estradas!
Outra paragem foi a pandemia. No período pré-pandemia estávamos a desenhar propostas formativas, como uma alternativa nova e mais uma folha em branco para explorar, para gerar conhecimento e aprendizagem. Fizémos algumas ações formativas e veio a pandemia. Tivémos de abandonar algumas ideias e criar novas propostas , como a assistência virtual, que se tornou um serviço importante na nossa oferta atual.
Outra conquista importante foi o período pós pandemia. Voltar a ter uma casa cheia, com fluxo de gente, foi extraordinário. A malta do Cowork diz que o Cowork não é o espaço físico, são as pessoas, e parecendo um chavão muito grande é mesmo assim. Surgiu um novo grupo, sempre com pessoas novas a entrar, foram-se cimentando dinâmicas cá dentro, de reencontro e sobretudo de recomeço. As pessoas estavam a procurar novas soluções. Surge uma forma de recriar uma vida diferente, com trabalho remoto, formatos hibridos, organizações de tempo, estilos de vida mais saudáveis, onde o espaço cowork tem lugar e é diferenciador. Tem sido muito bom de ver e sobretudo contribuir nesta mudança. Sentir que o que faço faz sentido e deixa marca!
Coworkland
O Coworkland é um espaço modular, que está constantemente a mudar e, pegando na metáfora do carro, tanto pode ser um smart, um camião tir, uma mota, um transformer… basicamente é perceberes que é um território fertil, que vai tendo frutos, sementeiras daquilo que as pessoas lá põem. Os projetos das pessoas que aqui gravitam. É um espaço que está constantemente a mudar e é bom manter as ‘antenas’ sempre alerta para explorar o que esta terra tem para dar. O Coworkland pode ser tanto mais do que o que vocês desejam que seja! Há terreno, há disponibilidade, há abertura e diversidade… pode ser um parque de estacionamento, auto-estrada , estrada com asfalto…
A companhia da Viagem
A Vanessa, a minha companheira de viagem, que fica agora muito bem ao volante do Cowork. Chegou, e sem a conhecer percebi que partilhava o espírito do espaço, com curiosidade e disponibilidade para o descobrir. Carregada de bonitas soft skills: responsabilidade, bom senso, saber estar. Pensei: aqui está uma pessoa que tem todo o potencial para ser aquilo que quiser ser e vamos lá perceber como a posso ajudar a mostrar isso mesmo aqui no Cowork. Para mim, ao início, foi esta responsabilidade de guiar, ensinar mas percebi que também podia aprender muito. A Vanessa ensinou-me as coisas mais simples e mais transformadoras: sentir que somos inteiros e não temos que estar aqui com máscaras. O keep it simple. O sentido prático dela e o sentido de confiança, confiar em mim, tornou-me também mais confiante. Depois, eu acho que cada um de vocês, mentores deste espaço, acreditou em mim para esta tarefa. O Sérgio dizia-me que eu era empreendedora nata e eu achava, com alguns preconceitos, que isso não era claro, o criar e inovar. Mas descobri que tenho uma empreendedora dentro de mim, com este cunho e identidade, porque há diversos tipos de empreendedores. Foi uma auto-descoberta.
Neste arriverdeci, o que levas no teu porta-bagagem?
Levo uma auto-consciência e um auto-conhecimento maiores, porque enfrentei alguns medos, cresci. Levo leveza, um conjunto de pessoas boas no meu horizonte. Aqui é como uma segunda casa. Não há entrei , nem saí. Com leveza, saio como Community manager, e posso voltar de várias formas, como coworker, como amiga, de diferentes formas… A melhor analogia é dos comboios. O Cowork é uma carruagem que está sempre em andamento. Tu sabes que em qualquer apeadeiro ela vai passar, mesmo com uma nova paisagem, mas com um acolhimento e sentimento sempre familiar.
🍊 O lado da Vanessa
Isto não é entrevista nenhuma? (risos). Mantenho o mesmo carro desde há quatro anos e meio para cá. Eu comecei no Cowork Torres Vedras com um estágio profissional, com a licenciatura em Design. O Cowork foi o primeiro contato com o meio empresarial . Na altura estava na procura, a prevaricar, e a minha irmã falou-me da Comunidade Cowork, do Sérgio e Sofia, pessoas descontraídas e de toda estas empresas num espaço único. Estava a fazer a minha tatuagem quando recebi o telefonema, fiz o portfolio de forma intensa, numa noite – o que tinha andado a construir na minha cabeça e a prevaricar há um ano. Vim à entrevista e fiquei. Trouxe o mesmo carro que tenho agora e trazia na minha bagagem, o meu portfolio feito com vigor e trazia a experiência de trabalhadora-estudante onde na experiência que tive num café, no atendimento a pessoas, aprendi sobre a escuta, que me ajudou na abertura e na relação com as empresas/clientes.
Pontos de Paragem/Desafios /Conquistas
Nos primeiros meses de estágio, tive a minha primeira paragem muito importante. Eu fazia reuniões semanais com a Rita e lembro-me de lhe devolver “Eu sinto que ainda não estou a ser eu”. Eu sentia, por estar num contexto mais empresarial, que tinha que ter uma postura a manter, mais formal, mais cordial. Tive uma conversa com o Sérgio, em que partilhei que sentia que era diferente a experiência que eu tinha no atendimento a pessoas, mais informalidade e até de humor. O Sergio disse-me “Eu quero sejas as Vanessa do café”. Eu percebo que o Sérgio pediu para ser mais Eu, mais autêntica, mais genuína. Comecei a mostrar a minha faceta mais brincalhona, mais espontânea. Mais EU.
No final do meu estágio foi outra etapa, em que tive de voltar ao antigo trabalho em part-time, nesta divisão multitarefa. Comecei também a realizar as primeiras tarefas de assistência virtual com a Pegada Verde. No tempo do primeiro confinamento, levámos mais a sério este serviço e acabámos por desenvolver mais tarefas e ter mais procura na assistência virtual. Foi fantástico como nos reinventamos na pandemia, as duas, e sobretudo a forma como a comunidade se manteve na maioria ligada a nós, apesar de tudo que estávamos a viver a nível de saúde pública.
Outro ponto marcante, foi a saída da Pegada Verde do Cowork Torres Vedras. Foi uma equipa que fez parte do meu acolhimento, com um núcleo muito forte, onde sempre pude colher opiniões, aprender. E houve um vazio que implicou uma nova adaptação da nossa equipa. Eu ligo-me às pessoas, e sinto que tenho crescido muito a nível profissional e feito grandes amizades nesta viagem.
Coworkland
Olha eu gosto de sentir isto… como um espaço leve e bem disposto. Estamos todos aqui com um propósito, desenvolver um negócio, projetos, mas depois todos procuramos o lado humano. Sair do gabinete e saber que podem ter companhia, trocar opiniões. É super bom estar nas secretárias e as pessoas passarem por nós e procurarem-nos para uma partilha, um pedido. Sentirmos que podemos escutar. Eu acabo por me concentrar melhor com este barulho bom. Eu sinto que estou muito alerta e que posso interromper o que estou a fazer com 10 pessoas que entram. Sinto esta necessidade de estar alerta, com uma visão global do que está a acontecer. Gosto deste papel de disponibilidade e acolhimento.
Companheira de Viagem
Tem sido incrível este crescimento conjunto, nestes quatro anos e meio de viagem. A Rita acolheu-me desde o estágio, muito compreensiva. Deu-me sempre feedbacks que me valorizavam e reforçaram, mesmo nas situações das asneiras dos inícios, de aprendizagem. Fez-me sempre sentir que queria fazer mais. Admiro muito a Rita, admiro dentro de muitas coisas, a sua ponderação e de pensar no todo e agir de forma sensata e ponderada. É fantástico sentir que aprendi muito com a Rita, e que ainda aprendo, mas que também a ensinei e que cresceu uma enorme amizade. Temos vivido muitas experiências e até temos uma expressão dos episódios engraçados que dizemos “esta tem de ir para o livro do cowork”. Não me lembro agora de uma situação concreta, mas lembro-me de ver a Rita, ponderada e sensata, a responder em ‘modo Vanessa’ a algumas situações e eu achar muita piada. E as nossas agendas, em que eu que sou visual, assinalo a verde o que está tratado e a Rita, que escreve num livro de post-its o que está tratado.
O que te faz querer ficar no Cowork como Community Manager…
É uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional. Gosto muito do Cowork , do trabalho que faço, das pessoas. Gosto muito de tudo aqui. Sinto a necessidade de crescimento e sobretudo a possibilidade de novos desafios e assumir novas responsabilidades. Eu e a Rita fomos/somos uma equipa que funciona muito bem, somos diferentes, mas sinto que aprendemos muito juntas e nesta etapa terei sempre comigo “uma voz amiga de ponderação” nos momentos em que irei estrategicamente decidir ou embarcar em novos desafios no Cowork.
Obrigada Rita e Vanessa pela viagem!
“Vamos precisar de um mapa que nos mostre que onde estamos é só ponto, e tudo à volta é mancha do que está por descobrir. Um mapa que resista à fuga e à intempérie. Uma mapa silencioso, que só tenha boca para nós, eu, tu e tu e tu…” (adapt. André Tecedeiro)
Rita Pinheiro, co-fundadora do Cowork Torres Vedras
fevereiro 2023