18.01.2024
Portfólio Laranja: Cedrostudio
Com a rubrica “Portfólio Laranja” pretendemos dar a conhecer os nossos coworkers e destacar os seus projetos, expressando a diversidade que nos caracteriza. Numa conversa informal, fomos conhecer o Cedrostudio, um projeto inovador criado pela Mariana Rebelo.
Tendo como ambição construir um futuro cada vez mais consciente e responsável, no Cedrostudio a arquitetura vai muito para além das estruturas. Com recurso à reabilitação e à construção consciente, a Mariana acredita que é possível tornar os edifícios cada vez mais autossuficientes, diminuir os custos de eletricidade e água, aumentar o desempenho térmico, conforto e a qualidade do ar de todas as habitações, enquanto diminuímos a pegada carbónica. Conhece mais sobre este projeto revolucionário em Portugal.
Em que momento do percurso percebeste que a arquitetura era tua vocação?
Esta é uma pergunta interessante. O meu avô materno era arquiteto. Infelizmente nunca o conheci, mas o escritório dele mantém-se inalterado em casa da minha avó. Ainda estavam lá os materiais todos dele… É das minhas divisões preferidas da casa e passava lá imenso tempo. Agora vejo fotografias minhas em pequena que nunca tinha visto, a brincar no escritório, com os materiais que eram do meu avô.
É engraçado porque a minha avó sempre disse que ia ter uma neta arquiteta. Houve uma altura em que, já mais crescida, não tinha essa ideia tão presente. Quando estive em artes ponderei também outras áreas, mas a minha avó manteve sempre a ideia de que arquitetura era a minha vocação. Na escolha de curso da faculdade pus, um pouco hesitante, arquitetura como primeira escolha. Quando entrei na faculdade entendi que tinha feito a escolha certa e fazia todo o sentido.
Conta-nos, o que motivou este projeto?
Eu sempre tive vontade de trabalhar por conta própria. Desde cedo mostrei vontade de ter o meu próprio atelier, até porque isso iria permitir-me explorar não só a arquitetura, mas também outras vertentes, como o design e o mobiliário. Sempre achei interessante a arquitetura ser uma área tão versátil e abrangente. Historicamente os arquitetos sabiam fazer um bocadinho de tudo, não era só criar as casas. Eles próprios aplicavam alguns materiais, escolhiam os quadros e o mobiliário.
Mas, como as coisas estão atualmente no mundo, queria ir além disso. Fazia-me todo o sentido abordar uma questão tão emergente no nosso planeta como é o caso da sustentabilidade. Mas aí deparei-me com um obstáculo: a falta de formação. Senti necessidade de colmatar essa falha e comecei a pensar que faria sentido eu criar uma coisa minha que me permitisse diferenciar.
No teu trabalho tens como mote o respeito pelo ambiente e sustentabilidade. E isso também te distingue face a outras empresas do mercado. Fala-nos sobre isso. Sobre teres como missão diminuir o impacto da construção no meio ambiente.
Não sei se é de conhecimento geral ou não, mas a construção é uma parte gigante da poluição e do excesso de materiais que são feitos para depois serem destruídos. Esse é um dos motivos porque sou apologista da reabilitação.
Contudo, apesar de notar um aumento das reabilitações, as casas nunca funcionam muito bem porque não são termicamente eficientes. Foi nesse sentido que procurei, para além da parte ecológica, as ‘Passive House’ que tornam desnecessário um elevado investimento em aquecimento ou arrefecimento, o que, consequentemente, poupa o ambiente uma vez que não gastamos tanta energia.
Para quem não está familiarizado com o conceito, explica-nos o que é uma ‘Passive House’?
O conceito de casa passiva baseia-se na norma ‘Passivhaus’. Uma norma de origem alemã de otimização energética para a construção de moradias. Assim, o objetivo primordial de uma ‘Passive House’ é ser eficiente de forma energética e garantir o conforto climático da casa usando os recursos da Natureza.
Neste sentido, há um conjunto de critérios que são essenciais de serem estudados na projeção das construções, como o isolamento necessário para manter a temperatura da casa e a ventilação adequada para evitar que a casa esteja muito isolada e estanca ao ar. Importante ainda realçar que uma ‘Passive House’ é possível de construir independentemente do clima do país, basta aumentar ou reduzir o isolamento.
A implementação destas soluções aumenta o grau de bem-estar dentro da casa e, a longo prazo, evita problemas respiratórios. O ar fica perfeito porque não há humidades. Para além disso, apresenta uma enorme diferença ao nível de custos energéticos e de manutenção.
O que te motiva profissionalmente? Onde vais buscar a tua inspiração?
Há algum tempo que sigo blogs de sustentabilidade e tento adotar rotinas mais sustentáveis, portanto, achei que fazia todo o sentido implementar também no meu projeto. Quando vim para o Cowork Torres Vedras percebi também que partilhavam muitos dos mesmos valores que eu procuro adotar no meu trabalho.
Para complementar, a minha infância foi passada num ambiente rural. Cresci com o contacto com a Natureza e acho que isso se reflete muito nos meus projetos. Mesmo os clientes mostram cada vez mais uma consciencialização e preocupação pela sustentabilidade e valorizam a proximidade com a Natureza, pelo que há um aumento da procura no interior em comparação com a azáfama das grandes cidades.
Na tua opinião, que desafios existem no mercado atualmente?
Como as ‘Passive House’, ainda são um conceito relativamente recente não existe tanta recetividade. Para além disso, as pessoas associam a um custo muito elevado. Mesmo com as empresas de construção, é muito difícil impor estas ideias novas de construção. Apesar dos materiais de construção serem semelhantes, a forma de construir é ligeiramente diferente. As gerações mais novas, no entanto, já se mostram mais recetivas. Já entenderam que as casas “convencionais” não são eficientes e procuram outras soluções mais inovadoras. Isso faz com que os custos baixem e sejam equiparáveis à construção convencional.
Apesar de em Portugal este modelo de construção não estar muito explorado por ser um conceito relativamente novo, alguns países europeus já têm intenções que brevemente todas as casas sejam ‘Passive House’.
Assim, o maior desafio talvez seja mesmo combater o que já está tão enraizado na nossa cultura e que as pessoas denominam de “tradição”. Esta forma de construção não rompe com a tradição portuguesa. Podemos construir uma casa tipicamente portuguesa de forma eficiente.
Como é que o teu caminho se cruzou com o nosso espaço?
Eu já tinha estado cá a trabalhar, num atelier de arquitetura. Depois disso, estive um ano e pouco a trabalhar nos meus projetos a partir de casa, mas senti saudades deste ambiente. É sempre diferente estarmos a trabalhar aqui. A concentração e a produtividade aumentam porque todos à nossa volta também estão concentrados. Também senti muita falta dos momentos de convívio.
O facto de haver outros ateliers de arquitetura no espaço também permite a troca de ideias, o que é bastante enriquecedor.
A somar a isso tudo, agora que vim para o Cowork tenho mais clientes. O facto de ter uma morada faz muita diferença, principalmente neste tipo de negócio em que as pessoas querem ver em que ambientes nos enquadramos. O Cowork Torres Vedras encaixa-se na perfeição porque tem tudo a ver com sustentabilidade e também me permite reunir com clientes, o que traz mais seriedade e mais confiança.
Espreita alguns dos trabalhos do Cedrostudio e vê mais informações neste link.
Fotografias: Cedrostudio e Mariana Rebelo